Cresci no meio do campo,
quebrando queixo de potro;
desde piá foi meu esporte,
que eu nunca troquei por outro;
dar um pialo de cucharra
ou, também, de sobrelombo:
calçava o pé na macega,
e era só escutar o tombo!
Cuidar dos terneiros guachos
era minha obrigação;
tirar o leite da barrosa,
pros porcos dar a ração;
limpar as estrebarias,
cortar lenha pro fogão;
e trazer bons guarda-fogos,
pra acender o fogo de chão!
E, assim, fui levando a vida
de piazito mui gaudério;
cresci forte e retovado,
com a estampa de homem sério.
Mas também fazia artes;
qual o piá que não faz?
Fiz muita potranca nova
virar a cara pra trás!
Barranquear é verbo chucro,
que eu bem cedo conjuguei;
barranco, toco ou cupim,
desse jeito me criei;
talvez alguém ache estranho
o modo que eu me expressei,
mas é a mais pura verdade;
qual o guri que não fez?
Tudo isso que eu falei,
se alguém achar que foi feio,
que me desculpem no más;
mas fui criado sem freio;
e todo o índio bagual
passou por esses recreios,
mas nunca deixei china triste
e nem serviço no meio!
Depois que eu fiquei taludo,
eu já tocava pra um xixo;
sempre gostei de carreira,
cancha de bocha e bolicho;
e deste jeito cresci,
sem numca fazer folia;
e dentro de algum bochincho
a indiada sempre me via,
com uma flor de morena
agarrada pelas "virias"!
A noite era sempre pequena,
pois gostava do retoço;
quase sempre com uma china
grudada no meu pescoço;
virava a adaga pra frente,
se alguém me boleasse um osso;
disgaiava o índio a ferro,
e tava feito o alvoroço;
sempre fui pronto de jeito,
pra resolver meus caroço!
Há uns ditados campeiros,
que sempre gosto de lembrar:
cavalo atado também pasta,
aonde a corda alcançar;
cachorro que come ovelha
é só matando pra parar;
e a china bem caborteira,
não tem sovéu pra segurar:
igual água morro abaixo,
igual fogo morro acima;
e o índio mais perfumado,
do que cogote de china!
Mas hoje a idade chegou,
só resta a recordação;
uma china me pialou,
me embuçalou o coração;
me traz de cabresto curto,
sabe com quem tá lidando.
Hoje estou mui comportado,
só vejo a vida passando;
mas, de acabresto e maneado,
eu continuo pastando!